Mesmo depois da tragédia causada
por sua amante, Antônio Couto Araújo continuou casado com Nilza Coelho Araújo.
Fizeram bodas de ouro. Além de Solange, que já era nascida na época, tiveram
outros três rebentos. Hoje são seis netos e dois bisnetos.
— Deus me levou uma, mas me deu
mais três — conta Nilza, de 73 anos, na primeira vez em que fala sobre o
assunto numa entrevista.
A única recordação palpável de
Taninha é uma foto guardada na residência do casal de idosos. Antônio evita
conversar sobre o crime. O assassinato é uma espécie de tabu para ele. Mas as
lembranças não deixarão de existir. Em meio à comoção pela morte da menina Lavínia
Azeredo de Oliveira, em Caxias, em circunstâncias parecidas com as de Taninha,
a dor volta a apertar na casa da família Araújo.
Sem perdão
— Estava conversando com umas
amigas e comecei a chorar. São coisas que marcam muito. Mesmo que você queira
esquecer, as pessoas não deixam. A humanidade é muito cruel — desabafa Nilza.
Num bairro vizinho ao dela, vive
a Fera da Penha. Depois de cumprir 15 anos de prisão, Neyde deixou a cadeia.
Morou com os pais, e vive só desde que eles morreram. O endereço dela é uma rua
tranquila, onde ainda é possível jogar futebol sem se preocupar com carros.
Reclusa, ela pouco sai de casa. A janela de seu apartamento, no segundo andar,
costuma ficar fechada, mesmo sem ar-condicionado no imóvel.
Aos 77 anos, ela não conversa com
os vizinhos e nunca foi vista acompanhada pelos moradores dos outros 15
apartamentos de seu prédio. Se para ela o destino reservou uma vida na sombra,
como uma espécie de maldição pelo crime que cometeu, para Nilza, o tempo que
Neyde passou na cadeia foi pouco.
— Ela não cumpriu a pena dela —
afirma.
Romaria ao túmulo de Taninha
Quadra 21, carneiro 17. A funcionária do Cemitério de Inhaúma responde
de pronto o local onde está enterrada a menina Taninha. Depois que foi
assassinada, a garota passou a ser tratada como santa. Cinco décadas após o
crime, sua sepultura continua atraindo fiéis em busca de milagres.
Foto, flores, uma estatueta de
São Jorge e até duas bonecas decoram o túmulo da garota. As placas de
agradecimento pelas graças alcançadas estão por toda a parte. A última é do ano
passado. No chão, os restos de cera comprovam que muitas velas ainda são
acendidas para a menina.
— Tem um homem que vem sempre no
Dia de Finados. Ele pinta e cuida do túmulo. Não sabemos quem é. Muita gente
procura pela sepultura dela até hoje — conta uma funcionária do cemitério.
Há 15 anos, a família de Taninha
não visita sua sepultura. Se para os parentes da criança ir ao cemitério é
sinônimo de lembranças ruins, para alguns o túmulo da garota funciona como uma
espécie de altar.
Me emocionou. Coloquei no meu face.
ResponderExcluirMesmo tendo passado quase 53 anos, ainda nos emociona lembrar que uma criança passou por tamanha violência e outras virão a ser vítimas, se nós não nos unirmos em prol da conscientização e exigirmos Leis mais severas a criminosos como esta mulher, que ficou conhecida como Fera da Penha.
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