O motoboy Sandro Dota, acusado de violentar e matar a cunhada Bianca Consoli, pediu à juíza Fernanda Afonso de Almeida a destituição de seus advogados. Diante do pedido, a juíza dissolveu o conselho de sentença e informou que o julgamento deverá ser remarcado após a nomeação de novos advogados por Dota. "O conselho foi dissolvido e vamos marcar uma data com outro advogado", informou a magistrada.
O pedido foi feito no início do terceiro dia do julgamento do réu, que recomeçou por volta das 10h30 desta quinta-feira (25), no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo.
O motoboy permanecerá preso - ele nega o crime, ocorrido em 13 de setembro de 2011, na Zona Leste da capital. Após o anúncio do cancelamento do júri, familiares de Binca, que tinha 19 anos na época, se emocionaram muito e a juíza pediu que a mãe e a irmã da vítima - ex-mulher de Dota - fossem retiradas do tribunal. Elas, entretanto, saíram sozinhas, revoltadas com o ocorrido.
O julgamento teve início na terça-feira (23). Nos dois primeiros dias, foram ouvidas as testemunhas arroladas pela defesa e acusação. Nesta quinta, estava previsto o nterrogatório do suspeito.
Na quarta-feira, o depoimento da irmã da vítima, Daiana Ribeiro Consoli, foi o destaque. “Meu mundo desmoronou”, disse. A irmã de Bianca chorou enquanto era interrogada pela juíza. A defesa pediu permissão à magistrada para que Dota deixasse o júri durante este depoimento porque estaria emocionado, segundo o advogado de defesa, Ricardo Martins de São José Júnior.
Daiana afirmou que, durante certo tempo, acreditou na inocência do marido e até chegou a se afastar de sua mãe por causa disso. "Perdi o contato com a minha família. Naquela época eu acreditava na inocência dele. Toda aquela confiança que eu tinha nele foi tudo por água abaixo. Meu tio marcou uma reunião com a minha família e despejou tudo. Foi quando minha ficha caiu. Meu mundo desmoronou", afirmou.
Nesta época, ela entregou a investigadores a calça suja de sangue que Dota usou no dia em que Bianca foi morta. "Eu falei: 'Essa roupa aqui é dele. Quem não deve não teme. Pode levar, com certeza.' Estava a favor do Sandro na época", afirmou.
A irmã de Bianca contou que o ex-marido usava aquela roupa até o momento do velório de Bianca, quando só então foi para casa, tomou banho e trocou de roupa. Ela disse que, ao entregar a calça aos policiais, não tinha notado que na peça de roupa havia uma mancha de sangue. A perícia encontrou no sangue material genético compatível com o material encontrado sob as unhas da vítima.
Daiana contou que conheceu Sandro quando ele trabalhava na clínica para dependentes de drogas em que o marido dela na época, Wilson, estava internado. Ao saber do início do relacionamento entre os dois, Wilson se matou. "O Wilson descobriu que a gente estava junto. Sandro dizia ser amigo dele. O Wilson se enforcou. O motivo foi esse. Tentei retomar o relacionamento com o Wilson, mas o Sandro não deu paz", afirmou.
Ferimentos - O segundo dia começou por volta das 10h40 com o depoimento da perita do Instituto Médico Legal (IML), Angélica de Almeida. Ela contou sobre os ferimentos que encontrou no corpo de Bianca no exame necroscópico. Ela foi bastante questionada pela acusação e pela defesa sobre a possibilidade Bianca ter sido estuprada e disse que “não é possível dizer de forma inequívoca que sim nem que não”. Ela afirmou ainda que as características dos ferimentos permitem fazer uma estimativa de que os ferimentos seriam resultantes de luta corporal ocorrida até 12 horas antes da morte.
Em seguida veio o depoimento de outra testemunha de defesa, Bruno Barranco, namorado de Bianca à época, que afirmou que estava trabalhando no dia dos fatos. Segundo a promotoria, a folha de ponto e vídeos da empresa onde ele trabalha foram coletados durante a investigação para descartar qualquer possibilidade da participação de Bruno no crime. A defesa, por sua vez, tentou explorar possíveis contradições no depoimento prestado por Bruno nesta quarta e à polícia, durante a investigação.
O segundo dia foi marcado por discussão entre o promotor Nelson dos Santos Pereira Júnior e o advogado Ricardo Martins de São José Júnior. Pereira Júnior. Pereira Júnior reclamou por diversas vezes das interrupções do advogado de defesa. A juíza chegou a determinar um intervalo em um dos interrogatórios para que o clima se acalmasse.
Exames de DNA - A perita Ana Claudia Pacheco foi a quarta testemunha a depor. Ela afirmou que é "quatrilhões de vezes mais provável" que o indivíduo que deixou o sangue na calça jeans de Sandro Dota seja o mesmo que deixou o material genético encontrado sob a unha de Bianca, encontrada morta em setembro de 2011. Segundo ela, os exames de DNA só não chegam a 100% porque são feitos com análise estatística, mas as chances são de mais de 99%. A perita explicou como foi feita a análise e descartou a possibilidade de fraude.
Convocada pela defesa, Margaret Mitiko Inda Pereira, outra perita que trabalhou no caso, foi na mesma direção e sustentou que o material recebido era suficiente para análise. "Recebemos três manchas de sangue e cada uma delas tinha 1cm quadrado. Eram manchas secas que não passavam para o outro lado do tecido", disse.
Outra perita, Alaide do Nascimento Mariano, afirmou que ainda restam em aberto análise de quatro fragmentos palmares e três digitais. O advogado de Dota propôs a juíza nesta quarta-feira que seu cliente fornecesse material, por se sentir agora mais seguro, mas o pedido foi indeferido pela juíza sob o argumento de que ele se recusou a fornecer o mesmo material na fase de investigação.
Calça jeans - Também foi ouvida na quarta-feira Caroline de Cássia Lima, namorada de André, um ex-namorado de Bianca. Ela disse aos jurados que certa vez Bianca ligou para André e ele pediu para que ela (Caroline) atendesse. Segundo Caroline, nessa época, Bianca tinha três meses de namoro com Bruno Barranco. André, que estava sendo investigado pela morte de Bianca, morreu em um acidente de carro. Caroline forneceu DNA para análise e foi descartada como suspeita.
O eletricista Alcides Lourenço dos Santos, ex-namorado de Marina, avó de Bianca, disse que no dia em que a jovem foi assassinada, trabalhava na instalação de uma oficina na casa de Flor, uma tia de Bianca. Ele disse que viu Sandro Dota na casa de Flor por pouco tempo, entre as 15h e 16h.
Segundo o eletricista, após um barulho, ele ouviu Sandro Dota dizer "ai, bateu bem em cima" e viu a perna do suspeito roxa e sangrando. "Eu não vi ele se machucando. Ele falou que bateu na madeira, mas a altura da madeira não bate com a altura do machucado na perna dele", afirmou. No momento do acidente, Dota usava uma calça jeans. A roupa, entregue à polícia, foi reconhecida pelo eletricista.
1º dia - O julgamento de Sandro Dota teve início na terça-feira (23), com o depoimento de três das 17 testemunhas arroladas por defesa e acusação: Marta Maria Ribeiro, mãe de Bianca Consoli; a delegada Gisele Aparecida Capello Lelo, primeira a presidir o inquérito; e Maurício Vestyik, investigador do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHHP).
A mãe de Bianca chorou ao lembrar do momento em que encontrou a filha morta. "A primeira imagem que vi foi minha filha jogada no chão com a cabeça virada de lado. Pensei que ela tinha caído. O pescoço estava rígido e a cabeça dura", afirmou. "Saí desesperada e pedi a um vizinho que fizesse massagem cardíaca nela. Quando ele fez a massagem, saiu uma sacola plástica da boca dela", contou. Bianca foi apontada pela mãe como uma jovem responsável e trabalhadora e que dizia reservadamente que ela não gostava do cunhado.
Marta afirmou que ouviu de uma amiga de infância da vítima que Sandro a assediava. Essa amiga de Bianca, testemunha protegida, desistiu de depor nesta terça-feira e alegou ter sido ameaçada por telefone por Sandro, que está preso.
A segunda testemunha a depor na terça-feira foi a delegada Gisele Aparecida Capello Lelo, a primeira a presidir o inquérito. Ela relatou ter ouvido de uma testemunha o relato de que Sandro se insinuava para a cunhada. Chamada a falar pela defesa do réu, a delegada disse que indiciaria Sandro mesmo sem o exame de DNA, primeiro por causa do comportamento agressivo dele e depois, pelo fato de ser mulherengo.
Maurício Vestyik, investigador do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHHP), foi o terceiro a depor. "Os demais suspeitos apresentaram álibis plausíveis, menos o Sandro", declarou o policial civil perante o júri.