Na quinta feira dia 11
de julho de 2013 uma colaboradora do grupo O Grito das Mulheres foi procurada
por uma mulher (aqui preservaremos o nome), pois fora espancada pelo pai e não
sabia como agir, estava machucada no corpo e na alma. A integrante do grupo que
estava mais próximo se prontificou a ajudar e acompanhar vítimae também sua
mãe, até o Centro de Referência da Mulher de Macaé.
O grupo chegou por
volta da 16 horas ao Centro de Referência e logo no primeiro contato foi recebido
pela advogada do Centro. Prontamente fomos reconhecidas por ela que encaminhou
o atendimento para a Assistente Social.
A princípio a Assistente informou que já estava em um atendimento e que
o horário não permitiria outro, mas a advogada orientou que ela fizesse o atendimento.
Este é mais um grande equívoco, pois os casos de violência contra a mulher não
tem hora para acontecer. Depois de todos os relatosfeitos a mulher que recebeu
o atendimento voltou pra casa, e estávamos certas de que, a partir de então ela
receberia a assistência que necessitava.
Mas ao fim do dia
seguinte (12/07 - quinta-feira), uma surpresa. Fomos novamente procurados por
esta família, visto que o ex-marido que até então dividia com elas, tinha
levado parte da mobília e a filha de 11 anos com ele. A mulher ficou
desesperada, sem saber como agir e sentindo-se desamparada. Já passava das 19 horas, os órgãos de
assistência, burocraticamente fechados e mesmos os que tinham plantão 24 horas
como o Conselho Tutelar disseram que não tinham como ajudar. Só restou ao Grupo
procurar a 123ª DP (Macaé), Delegacia Legal, mas não especializada no Atendimento
a Mulher.
Chegando a delegacia o
policial civil chamou a vítima ao balcão e queria ali mesmo começar o
atendimento. Em pé e na frente de todos. A integrante do O Grito das Mulheres
explicou que ali no balcão esta família não receberia um atendimento adequado e
ainda deixava exposta a situação da família e por isso,
solicitou um atendimento mais reservado. Mesmo encontrando alguma resistência
por parte do policial o grupo entrou. O que mais impressiona e revolta é saber
que o policial fez de tudo para que o registro da violência contra a mulher não
acontecesse.
O Policial civil
“explicou” a complexidade de registrar esses casos, falou que o grupo estaria
se metendo em situações perigosas e de riscos. O policial criou todas as
dificuldades para realizar o registro. Certamente, se a vítima procurasse a
delegacia sozinha, não suportaria a pressão e teria desistido.
Temos que lembrar que
nos casos de crianças e adolescente e neste caso uma criança de 11 anos
subtraída de sua residência pelo pai,a delegacia não pode negar o registro e que
a antiga prática de registrar crianças desaparecidas só depois de 24 horas não
é legal. O registro pode e deve ser feito imediatamente.
“Registre imediatamente
o boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia civil, dando preferência à
delegacia especializada na proteção à criança e ao adolescente (DPCA), se
existir em seu município. Não é necessário esperar 24 horas para registrar o
boletim de ocorrência. Lembre-se de que as primeiras horas que sucedem o
desaparecimento são vitais para garantir a localização e proteção do
desaparecido.” Fonte: http://www.mpsc.mp.br/portal/webforms/Interna.aspx?campo=3833&secao_id=164(Ministério
Público de Santa Catarina).
Dois
fatos, entre tantos, merecem um destaque negativo no atendimento da 123ª DP.
1 –
Quando se aproximava das 22:00 hs(havíamos chegado as 20:10 hs), o policial,
que ainda fazia de tudo para não registrar a ocorrência, informou que teria que
ir ao banco sacar um dinheiro pois o caixa eletrônico fechava as 22:00. E não
foi diferente, ele foi ao banco e deixou a vítima esperando.
2 - Em
outro momento ao retornar a sua mesa esse mesmo policial colocou sua arma sobre
a mesa e com o cano virado na direção da pessoa que representava O Grito das
Mulheres. E começou a discorrer sobre suas “façanhas” policiais, em uma clara
intenção de intimidar e não realizar o registro.
O
mesmo policial chegou a sugerir que ligássemos para a operadora do celular da
menina e solicitássemos sua localização. Imaginem se isso é possível? Ele
certamente brincava com o grupo.
Por fim deixamos a delegacia, já se aproximando das
01:00 da manhã, porém com o registro realizado e em mãos. E ficamos com a
certeza de que muito tem que ser feito para garantir os direitos das mulheres,
desde o básico como uma delegacia especializada, como a desburocratização do
atendimento e a recapacitação dos funcionários públicos.
Na madrugada desta
mesma noite a vítima, ainda assustada, e sentindo-se ameaçada com alguns barulhos,
do lado de fora de sua residência, nos ligou assustada e imediatamente solicitamos
que ela buscasse ajuda no 190 e assim o fizemos também, mas depois de dezenas
de ligações não atendidas, desistimos.
Não existe atendimento
amplo e em horário integral nos órgão de assistência, não existem publicidade e
divulgação dos locais e telefones disponíveis para atendimento. Mesmo não
existindo delegacia especializada no atendimento a mulher em Macaé ou mesmo na
região, não existe bom senso e capacitação do policial para os casos de
atendimento a violência contra a mulher.
Ficou claro que uma mulher vítima de
violência tem muitas dificuldades de realizar um registro em Macaé e que essa
dificuldade mascara os verdadeiros números de vitimas, impedindo que políticas
específicas sejam cobradas das autoridades.
Terminamos mais um atendimento felizes por ajudar a melhorar as condições da mulher que trabalha, cria seus filhos, cuida de sua casa e é livre para decidir se quer ou não manter um relacionamento. Mas também tristes, porém motivadas, por saber que existe uma dura realidade e que vamos mudá-la.
Terminamos mais um atendimento felizes por ajudar a melhorar as condições da mulher que trabalha, cria seus filhos, cuida de sua casa e é livre para decidir se quer ou não manter um relacionamento. Mas também tristes, porém motivadas, por saber que existe uma dura realidade e que vamos mudá-la.
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