quinta-feira, 18 de julho de 2013

O relato de uma vida que não termina com a violência.
Em 1976 eu trabalhava em Macaé. Faltavam três dias para eu completar os dezoito anos. A noite fui a um parque que tinha acabado de se instalar onde hoje é o Centro Cultural e Caixa Econômica no centro da cidade, onde um cara passou a me seguir. Ele era bonito e de boa aparência. Então, pensei que ele estivesse me paquerando! Aproximou-se de mim e começou a conversar, perguntou se eu era de Macaé, respondi que era de Conceição de Macabu. Ele me chamou pra dar uma volta na Praça da Rua da Praia e eu resolvi acompanha-lo. Ouvindo o barulho das ondas fiquei encantada, pois na minha cidade não tem mar. Imediatamente ele me chamou pra ver as ondas do mar mais de perto. Sempre fui louca para ver o mar e a lua estava linda e refletia na água... aí foi fácil para ele.
Eu era totalmente ingênua e sem noção! Naquela época havia uma comunidade carente naquele lugar. Durante o caminho ele foi falando que trabalhava na obra da ponte nova a Ivan Mundim, também conhecida com Ponte da Barra. Chegando lá, ele se transformou em outra pessoa. Perguntou se eu estava pensando que ele era otário? Que se eu não me calasse ele me mataria afogada ali mesmo.
E começou a arrancar a minha roupa segurando os meus cabelos que eram enormes. Eu estava vestida de calça cocota na época(moda da época). Tentei gritar mas ele tampou a minha boca. Ele tentou descer a minha calça e lutei até perder minhas forças devido o choque. Então ele retirou o membro dele e começou fazer aquilo entrar em mim e aquilo escorregava, tocava na areia e ele tornava a fazer novamente.
Ele batia em meu rosto e me xingava! A calça que eu usava era de um tipo de malha que facilitou pra ele. Só depois que ele se satisfez é que me mandou embora. Sai dali sem saber o que fazer e nem pra quem contar. Cheguei ao trabalho toda suja de sangue, mas ninguém me viu ou notou. Fechei-me no quarto e me fechei pra sempre. 
Tentei contar para a minha mãe, mas ela me disse que fui eu quem quis me entregar. A partir dali a minha vida se transformou em um inferno! E fui embora pra Niterói. Algum tempo depois comecei a me sentir mal. Com muito sono e não conseguia me alimentar. Escrevi uma carta pra minha mãe contando como eu estava. A minha mãe sentiu que eu estava grávida. Mandou que eu voltasse pra Macabu que ela ia dar um jeito e eu voltei. Ele me mandou vir aqui em Macaé na casa de uma enfermeira para me aplicar uma tal de sonda. Este foi o jeito.
A pessoa fez e me mandou pra casa. Alguns dias depois comecei a ter febre muito alta e o feto não saía. Quando a minha mãe viu que eu já me encontrava num quadro de infecção e possivelmente num quadro de tétano me levou ao hospital. O médico disse a ela que por mais algumas horas eu estaria morta!
Hoje ele pode ser um amigo. Nunca mais o vi e se o visse talvez não o reconheceria. Sempre fui calada, mas agora resolvi tirar a amordaça e gritar! Aconselho que toda pessoa que sofreu algum tipo de violência abra a boca e denuncie. Corra atrás de tudo que tem direito.
Acho que no Brasil tinha que ter uma pena diferente para esse tipo crime! A castração desses monstros. Depois de todo esse tempo ainda sinto muita raiva! Muita revolta!
Ouvia a vida toda a minha mãe me difamando para os outros. Eu queria casar virgem para dar um tapa sem mão na sociedade e principalmente em minha mãe. Mas encontrei aquele monstro. Quando me lembro me vem as frases que ouvia naquela época que moças que não eram virgem não podiam se casar e que nenhum rapaz direito iria querer. Mas todos podiam se aproveitar delas.
Fiquei sem poder ter contato com minhas amigas as mães delas não deixavam elas se misturarem comigo. Só teve uma única amiga que não se afastou de mim. Sentia-me com uma doença contagiosa! Sofro maus tratos desde os meus seis anos de idade. 
Outros fatos se passaram depois desses. Porém estou calejada! Certa vez conheci outro homem e namoramos durante algum tempo. Mas certo dia por ciúme ele tentou me matar com o travesseiro no meu rosto. Estava já sem força pra lutar quando a cama desmontou e caiu em cima dos pés dele. Os homens acreditam na impunidade da justiça.
Agora estou muito aliviada. Já posso ir pra morada do céu. Não tenho mais medo de nada!!!
Foram muitas dores e traumas pela vida. Tenho uma força chamada Jesus Cristo!
(Depoimento de uma mulher real. Vítima de violência sexual, mas por privacidade não revelaremos seu nome e das outras pessoas mencionadas neste depoimento)

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